quarta-feira, 13 de março de 2019

ODE À MULHER AMADA, por Aluisio Rodrigues* (in memorian)




   
Não fugi à regra da insegurança quando surgiu em minha vida uma linda mulher, vinte e oito anos mais nova. Sua presença se constituiu verdadeiro enigma. Tal qual a figura mitológica da esfinge, levantei as primeiras dúvidas, elaborei questionamentos, porém, entre tantas incertezas havia algo cristalino a me apontar um norte a seguir. Nesse redemoinho de dúvidas, produzi, embora me faltasse o dom da poesia, um singelo poema ao qual denominei de Enigma, assim expresso.

ENIGMA 

Quem és tu, vieste de onde?
Em qual planeta ou galáxia te escondes?
Qual teu destino, aqui entre nós?


Saibas, pois, se és de outro mundo...
de terras estranhas... atingiste bem fundo,
de um pobre terráqueo, um coração indefeso.


Como pode, assim, tão de repente, sem atitude,
Ver-me inerte, em teus braços aprisionado?
Qual a razão de inesperada fraqueza?


Teus olhos? Teu carinho? Tua juventude?
Ou algo mais... talvez, que eu não pressinta?
Quem sabe, o riso, o jeito alegre de ser, a voz?


Não sei... Inquieta-me dúvida atroz.
De uma coisa, porém, não temo enganos...
A juventude que sem restrições entregas,
A maturidade que sem reclamos aceitas,
Se trazem a mim o renovar dos anos,
Fazem de ti a amante mais perfeita.

Transcorridas duas décadas de uma convivência harmoniosa, coincidente com a comemoração dos seus cinquenta anos, entendi  ser justo  nova avaliação, do que fomos e do que somos. O que antes se constituía um “enigma”, agora tinha a transparência de um cristal burilado pelas águas cristalinas de um regato. Estava, assim, decifrado o enigma.

ENIGMA DECIFRADO

Agora sei de onde vieste e o que fizeste
nesses anos  tantos  que junto passamos
a desfrutar a vida  em seus  bons  instantes
e esquecer o tempo, como bons amantes.


Sei também  qual teu destino, qual  tua sina
mostrar a um velho coração um novo mundo,
desfrutar o presente, renegar a  rotina
despertar num instante,  de  sono profundo.


Não és  de terras estranhas, mas  das alterosas,
de verdes campinas e  moças airosas
de olhar cujo brilho, tal qual diamante,
ofusca e domina um indefeso amante.


Vinte anos  aprisionado em teus braços,
a fitar teu rosto,  de  expressão candente,
bendigo a sorte, o enlevo em teu regaço,
os bons momentos  de amor ardente.


Não apenas a atitude, sem reclamos,
mas  um contexto de carinho e afeição,
se trouxe a mim,  o renovar dos anos,
fez de ti, mulher, um lenitivo ao coração.


Hoje, ao  navegar  em serena correnteza,
embora longe das procelas e das tormentas,
recorro a ti, nos momentos  de incerteza,
confiante  no acerto do rumo que orientas.


Ao aguardar,  sem medo, o inexorável,
que de longe  ou perto espreita  atento,
resta-me  bendizer  quanto foi agradável,
viver  a teu lado por tanto tempo. 


18 de dezembro de 2010


*Aluisio Rodrigues, Escritor, Membro da Academia Nacional de Direito do Trabalho, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da Décima Terceira Região.
 


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