Acabou com muita coisa
Até o afeto profundo
A família, nem se fala!
Essa não tem mais lazer
É na tal da Internet
Que nem lembra de comer
Hoje tudo é muito rápido
Não se pode perder tempo
Tudo passa fulminante
Como um silvo de um vento
Imagine que no médico
Quando adentro ao seu recinto
Ele entra na Internet
E sabe tudo que sinto
Se tenho uma taxa alta
Se sofro do coração
Se fiz o último exame
Se tenho pai ou irmão
Se a mãe morreu ou vive
Se preciso de dieta
Se sou uma sedentária
Ou se sou uma atleta
Tudo isso é registrado
Nesse tal computador
A gente já não conversa
E não diz nada ao doutor!
Antigamente eu falava
Dizia aonde doía
Mas hoje na minha “pasta”
Tem coisas que eu nem sabia!
Quando a gente faz exame
Fica tudo registrado
Daqui a pouco é de casa
Que vamos ser consultados
A pressa faz com que a gente
Deixe às vezes de dizer
Alguma coisa importante
Por medo de aborrecer
Tem coisa que a Internet
Facilita e é muito bom
Mas aquele olho no olho
Dava à consulta outro tom
Ao médico e ao advogado
Nada teria barganha
O coração se abria
E não se tinha vergonha
Eram amigos da família
Eram mais que um compadre
E muitas vezes faziam
Até as vezes do padre
Mas hoje tudo é mudado
Nesse sistema tão frio
É tanta coisa automática
Que chega a dar arrepio
Sou mais o tempo do “vôte”
Onde o médico bonachão
Sabia de cor os nomes
Do pai, da mãe, do irmão
Não tinha hora marcada
E nem pressa de acabar
Conversava-se de um tudo
Nem via a hora passar
Mas não se pode querer
Que o tempo fique parado
E vamos nós nessa vida
Fazermos tudo apressado
A fila anda meu caro!
Já não somos mais alguém
Somos letra, arroba e senha
Ponto com, barra ninguém.
(Laudicéia Ramos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário