terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

DEZ POESIAS (Bloco IV)


FUGAZ

Quando te encontrei, eu acreditei.
Amor? Penso que é assim,
Olhares, sorrisos, suores, tudo com encantamento.
No passado, apenas me deixei seduzir.
O que me fez pensar assim?
Desculpas, desencontros, ausências.
O que me fez distrair?
E insistir?
Hoje me pego a discernir
Que somente quando se caminha corpo e alma é que pode se sentir
Que a simplicidade e transparência dos gestos materializam o amor.
Repensando tudo, vejo que nada ficou,
Esvaíram-se no tempo todos aqueles tênues e fugazes momentos.


VALORES ESSENCIAIS



Há anos, décadas e milênios,
Desencontros são habituais.
Porém, resisto em achar que todos são normais.
Estranho quando pessoas,
Grandes amigas são,
E, sem motivo aparente,
Modificam o coração,
Deixando o outro desinformado da real situação.
Deixam margem para pensar
Que toda a história vivida
Era estéril e superficial,
De substância desprovida
Numa simbiose aparente,
Com encenações oportunas,
Sem despertar no incauto
Qualquer contradição ou deslize
Que o levasse a pensar
Quer o agir do seu par se atinha
Apenas a aproveitar
Aquilo que lhe convinha.
Honestidade, transparência, lealdade
São valores essenciais
Que jamais poderão
Faltar numa amizade!


O TEMPO


O tempo traz um mistério
Que é mesmo enigmático,
Faz chorar e faz sorrir,
Tudo pelo mesmo fato.
É que o passar das horas,
Às vezes rápido, outras sem demora,
Vai organizando em nosso ser
O luto da tristeza ou os louros da vitória.
Aceitar as nossas dores,
É condição essencial
Para saber aproveitar
O que delas é vital.
Sim, porque até na grande dor,
A exemplo do Salvador,
Se encontra aspecto redentor.
Ainda bem que o tempo a calma traz,
Sabedor de que os ímpetos se afloram e tem torpor,
Faz deixar correr a água, que não se bebe da fonte,
Pra deixar de ser afluente
E se acomode, cristaline e se horizonte,
Fazendo com que o ser
Desinstalado no seu viver
Encontre o movimento certo
Para o seu próprio remonte!


DEVANEIO



Poesia, devaneio antigo...
Mas, o que seria a vida sem poesia?
Penso até que poderia cair numa maresia...
Mas, o que fazem os mais encantados?
Resolvem transformar em poemas todas as suas alegrias?
Alegria por ter nascido perfeito, e por isso reconhecer o valor da criação?
Alegria por a natureza disponibilizar água, luz, sol e calor, sem nunca perguntar quanto custou?
Alegria por saber que existe um Deus de todos nós, à espera de sua visita?
Que vida! Ah! Que vida!
Sei, num melhor vamos nos transformar...
Longe, sabemos que não está,
Porque, basta querermos olhar! Deus é vida! Deus é vida!


AO MAR



Entre as ondas espalhadas eu me espalho,
Em mergulhos rasos e absolutos desfruto a liberdade almejada,
Devolvo à natureza tudo o que não me pertence.
Afloram no meu coração sentimentos de construção, de desconstrução, de chorar, de viver.
O mágico e o essencial se confundem na mesma história.
Ao mar, a reverência;
Ao mar, os amores vividos;
Ao mar, a sobrevivência estabelecida;
Ao mar, a gratidão do retorno.


METAMORFOSE HUMANA



Com palavras vou tentando explicar
Meus princípios, meus valores, meus amores.
Mas, tal qual um estrangeiro que só compreende sua língua natal,
Você vai me confundindo por igual.
Nas vírgulas? Nos pontos? Nos gestos? Ou no texto completo?
Não, não quero aceitar que o meu equívoco é total,
Reservo-me ao conforto de pensar que o nosso momento não é o atual.
Constato, contraditoriamente, um prazer confortante,
A chegada da maturidade latente.
Modifico os parâmeros do discurso no que se refere ao tempo.
Hoje sei que a maturação é pressuposto para a compreensão.
E, no otimismo de quem ama,
Recolho-me no aguardo de uma metamorfose humana.


SABEDORIA



Não te contei naquele instante,
Minha alma promove a paz,
Porque, no calor do evento,
Muita coisa se desfaz.
Sensato é aguardar o momento,
Deixar a emoção esvaecer,
Daí todo fato ou coisa
Tende seu real valor, valer.
Mas a amizade sincera
Clama por leal ser.
E, chegada a hora própria,
Deve a verdade aparecer,
Na certeza que o convívio
Longo, cheio de emoções,
Não permitirá nenhum abalo,
Por pura melindração.
Porque explicado o fato,
Direto, escancarado, sem rodeios,
Permite a possibilidade
De reparar o receio.
E a amizade vivida
Com laços fortes, sem avarias,
Reverencia o silêncio
Da senhora sabedoria!


FERTILIDADE



Num dia tão precisado
De insatisfações pessoais,
Por conta de um amor
De faz de conta e nada mais.
A ausência na manhã
Ganhou corpo com o tempo,
E aquele dia lindo
Estava virando tormento.
Foi quando a oração
Afastou os males horrendos!
Cai a água, vem o cheiro
De banho bem redentor,
E anuncia que a vida
Lá fora já começou.
O sol altaneiro no céu,
O mar respondendo o louvor.
Nas mãos de qualquer vivente
Existe uma semente,
Que, plantada em terreno fértil,
Pode gerar o eterno
Que a vida nos preparou!


PERCALÇO



Por menos que nos agrade,
Pertine reconhecer
Que, às vezes, as pessoas
Se perdem, com convicção,
Perante facilidades, que, muito precocemente, lhes retiram a razão.
E depois reconhecer, além de entristecer, que perderam a noção.
Nunca mais as relações fluirão do mesmo jeito,
Por falta de confiança, com quebra do encantamento,
Faz surgir o desconforto, que só traz o tal desgosto dos amantes incontentes.
E para recuperar, é preciso muito amor,
Aquele que já era escasso, quando o ato consumou.
Impossível não é não,
Porém, a dificuldade tem que ser avaliada,
E a aposta de quem quer tem que ser redimensionada.
Penso tudo ser possível, quando se trata de gente,
Às vezes decepciona, às vezes nos deixa contente,
Mas, o importante de todo o percalço
É cuidar da alma e da mente,
Diante do embaraço,
Não se entregar livremente,
Porque pessoas se vão, mas você reside em você integralmente!


AMIZADE



O amor chega como por encanto,
Sorrateiro, sutil, prefere os descuidados.
Cronologia não é matéria afeta aos olhos e ouvidos.
Sente-se com o coração o que a razão relega;
Guarda-se no inconsciente o bem-estar reciprocamente descoberto;
Estreitam-se os laços fortalecidos pelo sorriso, gentilezas e disponibilidade.
A intimidade que provém da confiança estabelecida gesta o momento da descoberta.
E quando tudo se agregar, o tempo prazeirosamente avisa que nasceu a amizade!

Poesias do Livro PERCEPÇÕES, de Eneida Dias de Miranda



Nenhum comentário:

Postar um comentário