sábado, 20 de janeiro de 2018

TEMPO DE ESPERAS, O LIVRO (Primeiro dia)



DUAS CARTAS POR DIA

A partir de hoje, 20.01.2018, você poderá ler, diariamente, aqui no Blog, trechos sequenciais do livro TEMPO DE ESPERAS, de Padre Fábio de Melo.
O livro não é de cunho religioso. Aborda aspectos da vida, ressaltando que a felicidade pode estar na simplicidade do cotidiano e que muitas vezes aquilo que queremos advém de um equívoco, por não se alargar o olhar, bem como enfatiza a compreensão e o preparo pelo ser humano para a espera dos acontecimentos. 
A trama do livro não obedece a uma narrativa convencional.  Ela se passa com uma  troca de cartas entre um renomado professor de filosofia, Abner, e um ex-aluno dele, Alfredo, que sonha em conquistar a glória profissional do mestre.
A aproximação pessoal de ambos se deu por intermédio de um antigo professor, Lamartine, amigos em comum, no momento em que Alfredo estava atravessando uma intensa desilusão amorosa.
Foi aí que o professor Lamartine o orientou a procurar Abner, informando que este tinha acabado de escrever um livro, intitulado “A dor do amor à luz da Filosofia”, e que seria de muita valia para o momento dele, Alfredo.
Assim fez o pupilo, por meio de uma carta, que foi prontamente respondida pelo brilhante professor, gerando sucessiva troca de correspondência. Nasceu daí uma profícua amizade, com ensinamentos edificantes, reflexões filosóficas, no campo existencial, tudo de forma simples, direta, tocante, capaz de elevar o ser. Impossível não aproveitar para o crescimento próprio.
De final surpreendente, o autor demonstra com maestria “O ITINERÁRIO DE UM FLORESCER HUMANO”.

                                                                                                                                              (Eneida D M)



RESUMO DA PRIMEIRA E DA SEGUNDA CARTA


“Prezado Abner,

Aqui estou eu.
Ando necessitado de dizer quem sou. Careço de encontrar alguém a quem eu possa retirar as máscaras.
Quero lhe dizer que estou escrevendo encorajado por um amigo que temos em comum: O professor Lamartine. Com ele falei brevemente que estava sofrendo muito, fruto de uma desilusão amorosa. Foi então que ele me contou ser seu amigo, fato que me concedeu entusiasmo, e que você terminou um livro intitulado “A dor do amor à luz da Filosofia”. Segundo o professor Lamartine, este livro seria de muita valia para meu momento atual.
Posso ter o prazer de ler os originais de sua obra?
Com meu respeito e admiração
                                                                                                                               Alfredo


Prezado Alfredo,

Obrigado pela visita. Suas palavras tão cheias de poesia trouxeram-me alegrias. Você tem razão. A dor humana não cabe inteiramente na casa da palavra. Mas é nela que vez em quando a dor descansa. Dor que não recebeu o abrigo da palavra corre o risco de virar amargura. Por isso a reflexão é tão salutar aos que sofrem.
Confesso que fiquei curioso para encontrar sua alma escondida nas casas de suas palavras. Mas, seguindo seu conselho, também fiquei atento às entrelinhas.
Antes do envio da obra, o estreitamento dos laços. A troca de correspondência nos facilitará a quebra da estranheza. Sugiro que você comece pela história que você tem para contar. Se há uma desilusão amorosa ameaçando seu equilíbrio pessoal é porque uma história de amor foi vivida. Pode ser?
Aguardando-me, despeço-me,
                                                                                                                         Abner”



 O LIVRO: TEMPO DE ESPERAS

 CARTAS: PRIMEIRA E SEGUNDA - 20.01.2018

Prezado Abner,

Aqui estou eu. Necessitei de coragem para chegar. Não é fácil bater à porta de alguém que tanto preza o direito de ser só. Com o intuito de ser menos inoportuno, utilizo-me dos recursos desta correspondência. Ponderei que a minha presença poderia causar-lhe desconforto. Sou-lhe estranho. E, por isso, a carta. Vida inteira espremida neste envelope que agora foi aberto por você. Uma carta é bem menos inoportuna que uma visita presencial. É uma forma de chegar, mas sem pesar o outro com a presença.

Ando necessitado de dizer quem sou. Careço de encontrar alguém a quem eu possa retirar as máscaras, mostrar o coração. A dificuldade que  enfrento no momento parece desvendar outros obscuros que trago em mim. Estou inadequado. Experimento e constato essa inadequação nas pequenas coisas. Estou precisando confessar meus medos. Só por isso lhe escrevo.

A escrita é uma aventura perigosa. Nela o coração humano se registra e se revela. O envelope resguarda o segredo, acoberta o infortúnio que gerou as palavras, segreda os motivos que o esboço da escrita não alcança, veda os espaços para que o sentimento não fuja, nem se perca pelo caminho. A palavra segura o significado do vivido, desafia o tempo, engana a cronologia. A vida vivida encontra abrigo na casa da palavra. A tenda do significado se presta a auscultar o coração confesso. E com isso o significado se avoluma. O que a palavra sabe de si mesma é misteriosamente emprestado à dor que até então doía sem ter nome. A dor pagã ganha batismo. Do obscuro ventre, alça o socorro do significado, vem à luz e acomoda-se nos estreitos territórios da palavra.

É assim que ouso bater à sua porta. Estreitado nos limites de minha fala. Tentei fazer caber neste envelope a circunstância existencial que tanto tem pesado sobre mim. Estou nas palavras, mas estou, sobretudo, nas entrelinhas. O que já sei dizer sobre mim é quase nada perto do ser que em mim se oculta. Talvez por isso eu esteja aqui. Tenho necessidade de conhecer melhor quem sou. Anseio por compreender o estatuto que me rege. A lei interior que me distingue e ao mesmo tempo me assemelha a uma parte da humanidade.

Prezado Abner, admiro muito sua obra. Desde o início de minhas atividades acadêmicas, você tem sido um autor constantemente consultado. A propósito, vez em quando me pego a pensar sobre os motivos que lhe afastaram do mundo, deixando a Universidade, o prestígio que a carreira acadêmica lhe proporcionava. Fico tentando compreender as razões que lhe conduziram ao refúgio de sua morada, optando por uma vida simples, ordinária e sem muitos contatos com a civilização. O meu questionamento não é sem motivo, afinal você abandonou o que vivo para alcançar. Desceu do pódio que auguro e lhe virou as costas. Todos os meus empenhos acadêmicos estão direcionados para um único objetivo: quero ser um intelectual mundialmente conhecido. Interferir nas culturas humanas, agregando valores, libertando as mentes das amarras que as condicionam.

Mas eis que você, ao adentrar a materialidade dos meus sonhos, ao tomar posse do que considero o lugar de minha realização, retrocede, despreza a conquista. Deixa o mundo que quero e assume o que não quero. É bem isso, meu caro Abner. Moro com meus pais num lugar muito parecido com este em que você resolveu se estabelecer. Um lugar ermo, isolado e sem nenhuma possibilidade, senão a vida agrícola, o tedioso trabalho que minha família realiza nos campos, plantando e cultivando a terra, esperando que ela reaja e produza frutos, conforme suas esperanças.

Sou o terceiro filho de uma família de agricultores. Meus dois irmãos mais velhos trabalham com meus pais. Cultivam milho, trigo e feijão. Alternam os plantios de acordo com as épocas do ano. Eu sempre fui preservado dos trabalhos. Contrariando todas as regras do condicionamento social, nasci amigo dos livros, dos estudos, das reflexões. Enquanto à mesa minha família discutia as mesmices de suas vidas, enquanto falava de sol, sementes e chuvas, eu já estava mergulhado na problemática da existência.

Meu pai não tardou a perceber minha diferença. Vez em quando, fazia vir da cidade caixas e caixas de livros para que eu pudesse ocupar minha infância com palavras e histórias que aos poucos fui aprendendo a conhecer. Mesmo sendo um homem sem instrução, meu pai agiu corretamente. Ele não mediu esforços para oferecer-me um destino diferente do de meus irmãos.

Eu ainda estou construindo a mudança. Tenho vinte anos e curso o terceiro ano de Filosofia na mesma Universidade em que você foi professor durante anos e anos. Eu ainda continuo na busca por mudar o meu destino. Ainda continuo morando com minha família no velho sítio. Para chegar ao campus, faço uso de uma lambreta, presente de meu pai. Sou privilegiado. Tive a graça de nascer nas proximidades de um grande centro universitário. Quarenta minutos. É o que levo entre minha casa e o campus.

Levanto todos os dias no mesmo horário que meus irmãos e só retorno para casa quando a noite cai. O dia todo eu me dedico aos estudos. A biblioteca é meu refúgio. Mergulho nos livros porque neles eu sei que está a chave do mundo novo que tanto anseio conquistar. É como se a cada livro terminado um passo de retirada fosse dado. Tenho consciência de que ir embora é um processo que se dá aos poucos. Minha realização depende desta partida. Descobri tudo isso muito cedo. Iniciei minha aventura humana num lugar totalmente inadequado para mim. A vida que é vivida em minha casa não me realiza. Eu não me identifico com minha família. Por isso eu já nasci partindo. É uma questão de sobrevivência, prezado Abner. Eu preciso encontrar o meu lugar no mundo, pois este que me foi oferecido, definitivamente, não é o meu.

Creio que esteja intrigado com minha estranha forma de me apresentar! Desculpe-me ter sido tão audacioso nas primeiras linhas de meu contato. É que eu não posso falar de mim sem necessariamente tocar em suas escolhas. Peço que releve meu amargor. Estou sofrido demais. É natural que minha fala nasça agressiva, indignada.

Mas tudo bem. Estes prolegômenos já estão extensos demais. Quero lhe dizer que estou escrevendo encorajado por um amigo que temos em comum: o professor Lamartine. Não sou de me abrir com facilidade, mas o velho professor Lamartine, ao perceber que minha alma sofria com desarmonias, resolveu quebrar as regras que prevalecem entre alunos e professores. Com ele falei brevemente que estava sofrendo muito, fruto de uma desilusão amorosa. Confesso que não foi fácil falar sobre o assunto. Parecia-me piegas descrever minhas angústias. É como se a fala sobre meus afetos desordenados representasse um retrocesso em minha vida intelectual. O amor me parece tão pouco inteligente. Foi então que ele me contou ser seu amigo, fato que me concedeu entusiasmo, e que você terminou um livro intitulado “A dor do amor à luz da Filosofia”. Segundo o professor Lamartine, este livro seria de muita valia para meu momento atual. Estou realmente necessitado de uma ajuda. O meu sofrimento tem me trazido muita solidão. Não falo de solidão do corpo, mas do pensamento. Além do velho professor Lamartine, eu não tenho ninguém com quem desabafar o tormento pelo qual estou passando. Além de me permitir a leitura dos originais de seu novo livro, pois sei que ainda não pretende publicá-lo, pensei que talvez pudesse dispensar algum tempo com meus questionamentos, ainda que pueris.

Posso ter o prazer de ler os originais de sua obra? E, se posso, seria possível um contato para discutirmos as questões que certamente a obra despertaria em mim?

Com meu respeito e minha admiração,                                                                                                                                                         Alfredo                                                                                                                                                                                  
Prezado Alfredo,

Obrigado pela visita. Suas palavras tão cheias de poesia trouxeram-me alegrias. Você tem razão. A dor humana não cabe inteiramente na casa da palavra. Mas é nela que vez em quando a dor descansa. Dor que não recebeu o abrigo da palavra corre o risco de virar amargura. Por isso a reflexão é tão salutar aos que sofrem. Refletir é o mesmo que erigir casas. Quanto mais conheço os vocabulários humanos, quanto mais eu mergulho no mistério dos significados, muito mais eu construo casas para abrigar minhas angústias. A palavra é um socorro à alma humana, meu caro Alfredo. Os poetas e escritores sabem disso. Uma edificação literária é um território onde muitas almas encontram descanso para suas inquietações. Por isso escolhemos os autores de nossa preferência. Nós os procuramos porque sabemos que neles encontraremos residências para hospedar nossas tristezas. A obra escrita com sensibilidade e arte funciona como teto onde protegemos nossa nudez, onde encontramos abrigo para descansar nossas indigências.

Confesso que fiquei curioso para encontrar sua alma escondida nas casas de suas palavras. Mas, seguindo seu conselho, também fiquei atento às entrelinhas. Elas são os descampados ainda não construídos, mas pertencem ao conjunto da casa. Você tem razão. Estamos no que falamos. Ou porque escondidos, ou porque revelados. Mas também estamos no que ocultamos. Um amigo terapeuta costuma dizer que o paciente se mostra muito mais naquilo que oculta do que necessariamente naquilo que revela. E que o resultado da terapia depende da astúcia do terapeuta em identificar a verdade que está por trás do não dito. Interessante isso. Recordo-me do tempo em que era criança. Todos em casa sabiam que eu tinha medo de escuro, menos meu pai. A ele eu nunca consegui assumir o medo. Tinha receio de que aquela fragilidade me retirasse parte de sua predileção. Coisa boba que geralmente ocorre no coração que ainda não está suficientemente fortalecido para as relações humanas. Meus irmãos eram destemidos, qualidade que meu pai fazia questão de ressaltar. Ocorria-me a possibilidade de que aquele medo me tornasse menos filho, menos amado, menos admirado.

Eu era o mais novo dos filhos de meu pai. O medo que sentia era motivo de escárnio para meus irmãos. Mas, toda vez que meu medo era contado ao meu pai, imediatamente eu me defendia dizendo não ter medo algum. Meu pai fazia sempre do mesmo modo. Olhava-me e secamente perguntava – “É verdade?”. E eu dizia – “Claro que não, meu pai!”.

Mas no avesso de minha negação existia uma afirmação que minha voz não escondia. Segredo exposto na fala enevoada, e que meu pai certamente desvendou desde o início, mas nunca fez questão de me deixar saber. Só ao final de sua vida, momentos antes de sua morte, eu quis lhe revelar o segredo. Contei a ele o meu medo. Ele sorriu e não disse nada. Pronto. Mais uma vez, o revelado se deu pela força do oculto. Naquele sorriso eu pude identificar a frase não dita, a fala que nunca alcançou a raiz da voz – “Eu sei, meu filho, eu sempre soube do seu medo!”.

Passei a admirar ainda mais o meu pai. Ele respeitou minha escolha. Ele sabia que não devia ser fácil revelar-lhe aquele limite. Por isso não fez questão de forjar a resposta. A ele eu já estava revelado, e isso lhe bastava. Ele sabia que eu tinha medo de escuro, mas também sabia do meu medo de dizê-lo.

Mas isso não é importante agora. Não sou terapeuta, tampouco você é paciente. Dê a esta última palavra a casa que preferir.

Considerei que suas declarações estão repletas de juventude. Obrigado por me confidenciar suas pressas e ansiedades. Nelas eu encontro um bilhete que me permite um retorno aos tempos idos de minhas procuras, tempo em que o coração desejava, mas não saboreava o desejo. Não se preocupe. Sofrer de juventude é destino inevitável à condição humana. Talvez seja por isso que você tenha concluído que hoje ocupo o lugar do seu rejeito, e que então estejamos em lugares semelhantes, mas portadores de satisfações opostas. O lugar a que você aspira eu realmente já ocupei, mas não se precipite em fazer juízo de valor sem antes provar concretamente os dois lados. Diamante na vitrine brilha muito mais que quando em nossas mãos.

Por enquanto, você só conhece um dos sabores. Espere o momento da síntese, depois de ter se servido dos dois banquetes. Só então você poderá dizer qual sabor é de seu agrado. Eu também vivi processo semelhante. Gostei de sua expressão “nascer partindo”. Ela também me define. Ao contrário de você, nasci num contexto de muitos recursos. Fui encaminhado ainda na adolescência para a Europa, onde iniciei uma arreira intelectual que me resultou muitos reconhecimentos e prestígios. Conheci os cinco continentes. Frequentei os mais importantes centros acadêmicos filosóficos do mundo e, depois de tantos caminhos andados, resolvi reencontrar o pequeno trilho que me viu partir.

Hoje moro numa antiga propriedade de meu pai, este lugar ermo, como você tão bem definiu. É aqui que descubro, dia a dia, a satisfação de uma rotina muito simples, mas feliz. Pouco tempo tenho dedicado à Filosofia. Troquei o ardiloso mundo das especulações filosóficas pelo conforto das artes, da literatura e da jardinagem. As muitas andanças atrás da verdade do mundo me desgastaram, meu caro Alfredo. Não quero mais o cansaço dos argumentos. Estou farto das discussões especulativas, das mesas-redondas em que as pessoas procuram prevalecer sobre as outras, todas elas vaidosas e ávidas por darem o lustre que o ego carece para não perder o prestígio, a ilusória sensação de que as questões humanas foram por elas finalmente decifradas e que podem ser armazenadas e discorridas num curto espaço de páginas. Descobri que não quero mais carregar este ônus. O vento da simplicidade finalmente soprou sobre mim. Chegou quando eu não esperava por ele. Pediu calma, serenidade, e eu resolvi obedecer.

É interessante observar os movimentos de nossas mudanças interiores. Nem sempre sabemos identificar o nascimento da inadequação que gera todo o processo. O fato é que um dia a gente acorda e percebe que a roupa não nos serve mais. Como se no curto espaço do descanso de uma noite a alma sofresse dilatação, deixando de caber no espaço antigo onde antes tão bem se acomodava. É inevitável. Mais cedo ou mais tarde, os sonhos da juventude perdem o viço. O que antes nos causava gozo, aos poucos, bem aos poucos, deixa de causar.

Essa é a razão de estar aqui, meu caro Alfredo. Estou obedecendo ao meu coração. Ele me pediu que voltasse ao lugar que antes desprezei, e, para minha surpresa, aqui encontrei o que estava necessitando. A viagem de retorno tem sido tão fascinante quanto foi a de partida. Com isso eu concluo que a felicidade não é lógica. Por vezes ela quebra todas as regras que dela conhecemos.

Fico muito honrado com a sugestão de Lamartine. Mas cuidado. Ele é um grande amigo, e amigos costumam nos enxergar muito melhor do que somos. A obra é recente. Ela ainda respira os primeiros ares da existência. Por isso não quero publicá-la. É provável que ainda venha a sofrer modificações. Um livro não pode ser publicado imediatamente ao seu término. O tempo da maturação é importante. Escrever é como fazer pão. O tempo da fermentação é indispensável, pois é ele que faz com que o pão cresça antes de ser levado ao forno. Antes da publicação, a fermentação das palavras. O motivo é um só. As palavras podem ser traiçoeiras. Por isso gosto de oferecer-lhes descanso. Para que eu esteja certo de que todas elas mereçam pertencer ao texto. Só depois do descanso da palavra é que podemos sentir o seu sabor. Por isso gosto que amigos leiam meus livros antes de publicá-los. A mesma coisa fazia o meu pai com sua produção de queijos. O envelhecimento era fundamental para a identidade de cada peça. Vez em quando, ele recebia um ou outro amigo para oferecer provas dos queijos armazenados. As opiniões eram importantes. A palavra também precisa envelhecer. A maturidade da obra é que lhe concederá perenidade.

“A dor do amor à luz da Filosofia” é a primeira produção neste tempo de exílio. Também gosto dela. A dor que o amor nos causa sempre foi motivo de assombro para mim, mas nos últimos anos de minha vida a teoria alcançou as páginas reais de minha vida. O sofrimento sentido alçou a velha curiosidade que sempre me acompanhou. Por isso quis mergulhar na questão. A Filosofia oferece uma leitura profícua deste desconforto. Não me importaria em permitir sua leitura, mas confesso que não costumo confiar originais a pessoas estranhas. Importaria se antes de enviá-la pudéssemos trocar alguma correspondência? Afinal, o livro é uma espécie de testemunho. Nele eu confesso e reflito sobre o que confesso. É íntimo, entende? Não é confortável confiar a intimidade a alguém a quem pouco, ou quase nada, conhecemos.

Antes do envio da obra, o estreitamento dos laços. A troca de correspondência nos facilitará a quebra da estranheza. Sugiro que a gente comece pela história que você tem para contar. Se há uma desilusão amorosa ameaçando seu equilíbrio pessoal é porque uma história de amor foi vivida. Pode ser?

Aguardando, despeço-me.

Abner



CARTA: PRIMEIRA E SEGUNDA - 20.01.2018
Fonte escrita e foto: Google

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